Enquanto Stendhal escrevia o primeiro parágrafo de "A cartuxa de Parma", é inegável que contribuía para a literatura francesa e mundial. Estaria, ainda assim, Stendhal prestando um desserviço à formação de leitores um século após a sua morte?A pilhéria com este clássico deve-se ao primeiro parágrafo ter inspirado a criação do lead jornalístico, que chega aos jornais brasileiros na década de 1950 pondo fim ao jornalismo romântico nos anos subsequentes. Responder no primeiro parágrados às perguntas "O que? Quem? Quando? Onde ? Como? Por que?" era o início da formatação dos textos para jornais.
Assim surgiram manuais de redação e estilo prezando pela clareza, concisão e simplicidade. Talvez tenham sido levados a sério demais. Qual não é o desespero de um estudante ao escrever uma notícia nos padrões pela primeira vez. Escrever para a televisão é quase voltar aos primórdios da comunicação.
Hipérboles à parte, a questão é: o quanto esta simplicidade em excesso vicia um leitor? O analfabeto funcional é capaz de compreender frases curtas, simples e diretas, muito semelhantes às ensinadas em diversos manuais. Os jornais apenas subestimam seus leitores ou realmente nivelam por baixo para alcançar um maior público? Há algum nexo nestas questões ou são puro devaneios?
Estaria de fato o jornalismo contribuindo para o analfabetismo funcional? Uma questão muito complexa, uma futura monografia quem sabe?
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