Ao vencedor, as batatas

Publicar é, naturalmente, um risco. Pudesse qualquer pessoa garantir com precisão as vendas de determinado título, em especial as apostas das editoras, a cadeira à direita do presidente teria dono permanente. Apesar de arriscado, planejar a publicação de livros não é tatear no escuro. A sorte, como diriam os campeões, é resultado de competência e preparo. Surpreende que profissionais do livro demonstrem algum espanto com o volume das vendas de livros sobre a vinda da Família Real, quando desde 2007 havia todo um planejamento da Prefeitura do Rio para celebrar os 200 anos deste fato histórico. Desfiles de Escolas de Samba, exposições, peças e uma série de outros eventos, públicos ou privados, já constavam no calendário do município. Ninguém, evidentemente, poderia afirmar que livros sobre a Corte de D. João seriam os best sellers de 2008, porém, a venda destes livros era o esperado, não a zebra do mercado, por assim dizer.

Por mais evidente que fosse, não estar atento aos livros sobre a Família Real é um pecado leve perto de esquecer o centenário da morte de Machado de Assis. E neste ponto houve um apagão geral nos profissionais do livro, ao menos no Rio de Janeiro. Não que seja difícil encontrar Machado nas livrarias, mas é quase impossível achar títulos específicos. Inegável que 2008 nos próximos 31 anos (quando será comemorado o bicentenário do seu nascimento) é o momento mais oportuno para vender as obras machadianas. O ideal seria aproveirar para vender não apenas os mais conhecidos Dom Casmurro, Memórias Póstumas etc., mas ampliar a divulgação das outras obras do autor. Aqui se encontra o erro básico das livrarias cariocas (por acaso, na cidade onde se passa grande parte das narrativas): tarefa árdua encontrar nas livrarias da cidade o romance Esaú e Jacó, beira a impossibilidade comprar uma boa edição e, de fato, é impossível achar uma edição recente ou comemorativa (ao que parece, as últimas edições datam de 1998). E pensar que nem é preciso pagar direitos autorais e qualquer editora poderia ter publicado.

Aos desolados leitores que em vão procuraram Esaú e Jacó, uma visita ao Domínio Público pode ser bastante agradável, dentre tantas obras de Machado e de outros escritores há três fontes para baixar gratuitamente o livro citado: Biblioteca Nacional, Universidade da Amazônia e Biblioteca Virtual do Estudante/USP.

Aos livreiros, um pouco mais de atenção. Ao Domínio Púlico, muito obrigado. Aos demais, boa leitura.
Ao vencedor, as batatas!