Como falar dos livros que não lemos?

Pode soar como mais um livro de auto-ajuda para pseudo-intelectuais, mas é apenas a dose de humor e sinceridade que tempera o livro do francês Pierre Bayard, lançado este ano pela Objetiva.

Psicanalista e professor de literatura francesa na Universidade de Paris, Bayard defende a tese de que é possível falar com propriedade de um livro mesmo sem o ter lido. Na Flip deste ano, o autor causou reboliço ao afirmar categoricamente que já deu aulas sobre escritores e livros que nunca leu. E, com humor, advertiu: “O único problema é se algum aluno tiver lido.”

De fato, ao nos depararmos com o cânon de obras universais obrigatórias, se a frustração que advém de não poder ou não conseguir ler todos é grande – às vezes nem os que estão em nossas humildes prateleiras – maior ainda é quando esquecemos os livros que já lemos. “Como falar dos livros que não lemos” trata de nos tranqüilizar quanto à “síndrome do esquecimento”. Todos que lêem bastante sabem que, depois de um certo tempo, pouco fica na memória. Difícil é admitir isso! Bayard diz que, “no momento em que estou lendo, eu já começo a esquecer o que li, e este processo é inelutável, prolongando-se até o momento em que tudo se passa como se eu não tivesse lido o livro e em que eu passo a ser o não-leitor”.

O mais interessante é que, para cada livro citado, ele indica em notas de rodapé seu grau de conhecimento e sua opinião sobre a obra, categorizando-os como Livros Folheado (L.F.), Livro de que Ouvi falar (L.O), Livros Esquecido (L.E.) e Livro Desconhecido (L.D).

Na proposição polêmica de Bayard, que faz muita gente torcer o nariz, implica que é preciso ter lido – ao menos trechos ou livros sobre livros – e sobretudo que é preciso ter interesse nos livros para participar do mundo da cultura. Além de constatar que a “obrigação de ler tudo” para ser digno de falar sobre livros é praticamente irrealizável. Ele é picareta ou sincero?

Em Paraty, num caderno especial de O Globo, fez-se um enquete com os principais autores da Flip sobre qual livro clássico que eles não leram. "A montanha mágica", de Thomas Mann foi o mais "não lido", até por Luis Fernando Veríssimo. E vocês?