Tratamento do negro nos livros didáticos reforça preconceito racial

É essa a opinião do historiador Manolo Florentino, também professor da UFRJ, em entrevista à BBC Brasil. Segundo ele, essa visão reducionista do negro como “vítima da sanha do branco (...) dificulta o processo de identificação social das crianças com aquela figura que está sempre sendo maltratada”. Os livros tendem a reforçar esse aspecto negativo e a ocultarem a participação do negro na formação do Brasil, apesar do contexto escravocrata.

Os livros mostram como brancos figuras mestiças que conseguiram se libertar da escravidão e se destacaram na vida pública. É o caso de Rui Barbosa, Floriano Peixoto, Rodrigues Alves e Washington Luís, pessoas que, de acordo com um sistema de classificação anglo-saxão, não são considerados brancos. É o fenômeno chamado "ideologia do branqueamento", pela qual indivíduos de ascendência negra tentavam se passar por brancos para ascenderem socialmente. Uma lei federal de 2003 tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas, mas poucas promovem programas de valorização da cultura afro-brasileira.

A idéia é ensinar aos alunos, na sua maioria negros, que eles não aparecem apenas como sujeitos vitimados na história brasileira, aumentando sua auto-estima e o desempenho escolar. Para o historiador, o enfoque na "historiografia da resistência" é uma das razões pelas quais os alunos têm dificuldade de se identificar com as populações escravizadas. “Na verdade, a constituição de identidade negra brasileira desse agente socialmente ativo se dá dentro da escravidão, dentro da sociedade, que está em processo constante de conflito, mas também de negociação." A questão em pauta é tão delicada quanto a nossa responsabilidade, enquanto estudantes de PE. Se vamos trabalhar com livros didáticos, teremos que refletir sobre a importância do livro na formação do indivíduo e na contribuição que daremos para a sua identidade cultural.

Fonte: BBC Brasil