Editora cancela publicação de livro para não sofrer represália

Olha que interessante, pessoal. Em pleno século XXI, um livro de ficção sobre a noiva infante do profeta Maomé, The Jevel of Medina, teve sua publicação cancelada, ou melhor, adiada, pela própria editora (a americana Random House) com medo de sofrer represália. A novela conta a vida de A'isha, considerada a esposa favorita de Maomé, desde o seu noivado, aos seis anos de idade, até a morte do profeta. O editor teve receio de que o livro fosse considerado ofensivo para os muçulmanos a ponto de incitar atos de violência de segmentos radicais. A obra, que narra a história de amor entre Maomé e A'isha, foi escrita pela jornalista Sherry Jones e deveria chegar às livrarias na próxima terça-feira.

A decisão da editora só veio a público depois que Asra Nomanim, escritora e acadêmica muçulmana, revelou publicamente em sua coluna no jornal americano The Wallm o caso do livro Versos satânicos, do britânico Salman Rushdie. Em 1988, o livro provocou indignação em parte do mundo muçulmano. Uma fatwa (ordem de execução) foi declarada contra Rushdie pelo então líder espiritual iraniano, aiatolá Khomeini, forçando o autor a viver escondido por uma década. A editora, temendo uma reação semelhante à essa publicação, sugeriu à Sherry Jones que procurasse outra editora.

E pensar que nós, brasileiros, tivemos situações semelhantes nos períodos dos “anos de chumbo” (1960 a final dos anos 1970), em que muitos editores tiveram suas editoras fechadas, seus livros apreendidos e queimados, por terem conteúdo “difamatório” e “atentado público ao pudor” etc. A decisão da Random House, da não publicação, pode ter sido uma infeliz estratégia e certamente eles não quiseram se arriscar a passar pelo o que nossos editores passaram. Isso me faz pensar que o papel do editor vai muito mais além do que simplesmente publicar. E aqui começa uma longa reflexão para a nossa carreira profissional.

Fonte: BBC Brasil