
A decisão da editora só veio a público depois que Asra Nomanim, escritora e acadêmica muçulmana, revelou publicamente em sua coluna no jornal americano The Wallm o caso do livro Versos satânicos, do britânico Salman Rushdie. Em 1988, o livro provocou indignação em parte do mundo muçulmano. Uma fatwa (ordem de execução) foi declarada contra Rushdie pelo então líder espiritual iraniano, aiatolá Khomeini, forçando o autor a viver escondido por uma década. A editora, temendo uma reação semelhante à essa publicação, sugeriu à Sherry Jones que procurasse outra editora.
E pensar que nós, brasileiros, tivemos situações semelhantes nos períodos dos “anos de chumbo” (1960 a final dos anos 1970), em que muitos editores tiveram suas editoras fechadas, seus livros apreendidos e queimados, por terem conteúdo “difamatório” e “atentado público ao pudor” etc. A decisão da Random House, da não publicação, pode ter sido uma infeliz estratégia e certamente eles não quiseram se arriscar a passar pelo o que nossos editores passaram. Isso me faz pensar que o papel do editor vai muito mais além do que simplesmente publicar. E aqui começa uma longa reflexão para a nossa carreira profissional.
Fonte: BBC Brasil